Ngoenha apela à humanização dos serviços de saúde

O Filósofo moçambicano, Severino Ngoenha, defendeu há dias, na cidade de Maputo, a necessidade de humanizar os serviços de saúde, sendo para o efeito necessário introduzir a questão da moral e dos valores no pacote de formação dos profissionais de saúde a todos os níveis.

O académico que falava numa palestra organizada pela sociedade civil, alusiva ao dia da função pública, chamou atenção para que o pessoal da saúde seja sujeito a estágios e reciclagens anuais.

“Sugiro que no âmbito de formação destes profissionais, a questão da moral e dos valores esteja presente, constantemente presente. Eu sugiro que hajam estágios e reciclagens, porque depois de muito correr, chega uma altura em que estamos cansados, e estes profissionais, que são os médicos e enfermeiros, sujeitos a tudo o que nós sabemos, muitas vezes cansam-se e o cansaço deles pode fazer com que esqueçam e negligenciem outras funções principais que têm”, recomendou.

Apelou a introdução nas formações de médicos, enfermeiros, serventes, até do pessoal técnico dos hospitais a dimensão humana da profissão que têm. Que façam estágios, que se repitam uma vez por ano, que não obstante as dificuldades a gente não perca de vista o essencial.

Apesar de reconhecer a situação de pressão a que os profissionais de saúde se encontram devido a sobrecarga do trabalho e dos rendimentos que muitas vezes não correspondem as expectativas, Ngoenha não encontra razões para situações de maus-tratos aos doentes. 

“A função do professor, que eu pratico e a função médica que lida com dores, lida com sofrimento, elas tinham que ser humanista. Tinham que ser potencialmente vistas como uma possibilidade que os praticantes destes serviços têm para realizar a sua própria felicidade”, disse.

Acrescentou que este humanismo não é espontâneo, tem de ser entendido, tem de ser educado, tem de ser transmitido.

Fazendo-se valer do lema do Ministério da Saúde, “O nosso maior valor é a vida” o filósofo desafiou os profissionais de saúde e as unidades de saúde público e privadas a serem mais sensíveis com quem busca os seus serviços por conta da dor.

“Num mundo onde as nossas clínicas só pensam em fazer dinheiro, num mundo em que os nossos hospitais só pensam em ter dinheiro, e muitas vezes não tem condições, num mundo onde os profissionais pensam em despachar no hospital público para ir atrás do hospital privado, é preciso fazer descobrir a dimensão humana da própria profissão e do rosto da pessoa que se esconde por trás daquele que sofre e se apresenta diante de nós”, vincou.

Para Ngoenha, é preciso que as instituições que têm a função de gerir os trabalhos dos hospitais, dos lugares médicos tenham este respiro, esta dimensão de humanismo e do valor supremo, porque lidam com a vida e seus próprios valores da responsabilidade em que estão imbuídos.

Neste sentido, a sociedade civil referiu que a questão de mau-atendimento nas unidades sanitárias vai para além do pessoal da saúde, remetendo a necessidade de definição de políticas claras que tenham impacto directo na qualidade de atendimento do utente.

Mau atendimento nos hospitais

Na ocasião, a Edite Thuzine, médica responsável pelo departamento de humanização no MISAU reconheceu os desafios de melhorar o atendimento nas unidades sanitárias e avançou que o sector tem realizado formações e encontros de sensibilização com os profissionais da saúde para que haja um atendimento humanizado.

“Nós sabemos que tem havido problemas de mau-atendimento e como Ministério da Saúde, o esforço que estamos a fazer é exactamente trabalhar com os profissionais da saúde para que haja humanismo no atendimento, para que haja comunicação, que haja empatia, haja boa informação e um diálogo entre o utente e o profissional de saúde”, referiu.

O encontro foi organizado pelo Programa POTENCIAR, que é uma iniciativa financiada pelo Alto Comissariado Britânico, que visa melhorar a participação dos cidadãos na governação e na gestão dos serviços públicos, assim como desenvolver parcerias entre o Governo e a Sociedade Civil para fazer face aos desafios de acesso aos serviços públicos de qualidade.

Através de iniciativas colaborativas que juntam actores estatais e não estatais, o POTENCIAR tem abordado na sua intervenção a questão da formação profissional em saúde e o seu impacto na qualidade de atendimento aos utentes. 


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