
UPMaputo Recebe Obra de António Niquice sobre Indústria Extractiva
Na tarde de quinta-feira, 24 de abril de 2025, os corredores da Universidade Pedagógica de Maputo (UPMaputo) tornaram-se palco de uma reflexão profunda sobre o futuro de África. A instituição acolheu a cerimónia oficial de entrega do livro “Indústria Extractiva em África – Uma Bênção ou Maldição?”, da autoria do Professor Doutor António Niquice, numa ocasião que transcendeu o simples gesto de doar um exemplar. O evento converteu-se num espaço simbólico de debate sobre as grandes questões do continente.
A escolha da data não poderia ter sido mais apropriada. Coincidindo com as celebrações do Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor, a cerimónia também ecoou os 40 anos da universidade e os 50 anos da independência de Moçambique, ambos momentos de forte carga simbólica para a educação e a soberania nacional.

Diante de um auditório atento, o Reitor da UPMaputo, Professor Doutor Jorge Ferrão, fez as honras da casa. Com um discurso emocionado e cheio de significado, enalteceu o percurso académico, político e intelectual de António Niquice. Para Ferrão, a obra chega num momento em que o país carece de vozes lúcidas que ajudem a interpretar a sua própria realidade. “Este livro não é apenas uma análise; é um testemunho histórico, uma articulação sensível e corajosa do pensamento de um intelectual que se recusa a aceitar respostas fáceis”, afirmou.
Segundo o Reitor, a contribuição de Niquice lança luz sobre temas que há décadas inquietam Moçambique, desde os conflitos armados às tensões sociais nos territórios ricos em recursos. “É uma proposta teórica arrojada que nos obriga a compreender não só o país, mas o mundo em que nos inserimos. A indústria extractiva é um problema global, e o livro revela como a sua gestão exige muito mais do que vontade política – exige visão, estratégia e compromisso com o desenvolvimento sustentável”, disse Ferrão.

A obra ganhou vida com o apoio financeiro do Banco Comercial e de Investimentos (BCI), representado no evento pelo seu administrador, Luís Aguiar. Em seu discurso, Aguiar destacou o papel determinante de António Niquice como pesquisador e político, reconhecendo o valor do seu trabalho para o presente e o futuro de Moçambique e de África. “O BCI orgulha-se de ter contribuído para que este livro se tornasse realidade. Apostámos não apenas num autor com um currículo notável, mas num conteúdo que acreditamos ser transformador para o país e para a academia”, disse, sublinhando o compromisso contínuo do banco com causas de impacto social e educativo.
No centro de todas as atenções, António Niquice recebeu os aplausos com a humildade de quem transforma a inquietação em pesquisa e a pesquisa em acção. Num tom sereno, mas firme, explicou por que escolheu África como objecto da sua investigação. “Somos o continente mais rico em recursos naturais, mas essa riqueza tem sido, muitas vezes, fonte de instabilidade, de conflitos e de exploração”, disse.

O autor destacou que seu livro traz reflexões sobre o vínculo entre terrorismo e regiões de recursos estratégicos, e que seu propósito é provocar uma leitura crítica sobre o potencial da indústria extractiva para transformar – positivamente – a realidade africana.
Para Niquice, o segredo está na gestão. “Se os nossos recursos forem explorados de forma sustentável, poderão dinamizar a economia, promover o conteúdo local e fortalecer toda a cadeia de valor. Não precisam ser uma maldição; podem, sim, ser uma bênção”, declarou.

Ao cair da tarde, entre abraços, sorrisos e promessas de leitura atenta, a UPMaputo não apenas recebeu um livro – acolheu um chamado à reflexão, um apelo ao conhecimento e uma esperança de que, com lucidez e responsabilidade, África possa escrever um novo capítulo da sua história.
