
Uma “Não noticia” sobre Autoridade Reguladora de Água -AURA
Por: António Foguete
Recentemente, fomos surpreendidos por uma reportagem veiculada por um renomado órgão de comunicação social do país, que, sob o pretexto de uma denúncia, revelou-se uma verdadeira peça de desinformação. Este episódio evidencia a fragilidade de uma narrativa que, em teoria, deveria primar pela seriedade, pela ética jornalística e pelo compromisso com a verdade, princípios fundamentais do jornalismo de qualidade.
A reportagem em questão criticava duramente uma acção da AURA, Autoridade Reguladora de Água, relacionada ao lançamento de um concurso para contratação de uma empresa para o fornecimento de água tratada. À primeira vista, trata-se de uma questão técnica e de gestão, que não deveria gerar controvérsia. No entanto, a matéria tentou transformar essa iniciativa em um escândalo, alegando que a AURA não deveria contratar tais serviços, pois, como órgão regulador, deveria consumir água directamente das torneiras, uma afirmação, no mínimo, absurda.
Durante a reportagem fora “recrutadas” figuras que aparentavam um certo desconhecimento em matérias em causa, para “apadrinharem” a relevância da peça
Reflectir sobre as implicações dessa proposta infundada é fundamental. Será que a sugestão da reportagem é que a AURA deva instalar torneiras com água potável, em todos os sectores? E como garantir a higiene e a segurança nesse processo, especialmente em ambientes de relativa circulação de pessoas, como salas de reunião, áreas de convivência ou sectores administrativos? sera que cada funcionário devia ser o portador do seu próprio copo para que, sempre que for necessário, se dirigir a torneira? E como faríamos em relação os visitantes? Ás salas de reuniões? Em fim, são “maningue” perguntas que faríamos àquela televisão.
A verdade é que a contratação de entidades para o fornecimento de água em ambientes institucionais transcende a mera questão de saneamento ou de desconfiança da água de torneiras. Trata-se de um mecanismo que envolve o próprio manuseio adequado, a higiene, a segurança na distribuição da água consumida. Como poderíamos manusear a água das torneiras em ambiente de trabalho? Em ambientes domésticos, o manuseio é mais informal e controlado, mas, em locais de trabalho, esse procedimento é mais limitado. Dito de forma simples, a forma como manuseamos água em nossas casas é diferente de como deve ser manuseada em ambientes de trabalho.
Esperava que, no mínimo, a reportagem em causa apresentasse alguma proposta sobre como a AURA poderia garantir o acesso a água de qualidade para seus funcionários, sem sensacionalismo.
Talvez queiram nos sugerir que na AURA deveria fornecer água em jarros ou tambores, como se fazia há décadas, onde cada pessoa ia se servir pessoalmente. A Covid19 veio nos mostrar que essa prática não é viável. Hoje, em ambientes modernos, são disponibilizados galões e bebedouros que garantem a segurança e a higiene do líquido, sem que haja total intervenção de mãos humanas no processo de se servir a água.
Se até em falecimentos já se distribui água mineral tratada para os participantes, não por desconfiança á água das torneiras, mas principalmente para evitar que se mobilize quantidades inestimáveis de copos para servir água aos participantes. Dizer que a AURA deve consumir água da torneira é uma afirmação que beira o desrespeito pelos profissionais daquela instituição pública.
Portanto, a simples retirada de água de uma torneira comum não garante, por si só, a mesma qualidade certificada pela entidade reguladora junto ao fornecedor. Afinal, a água que sai da torneira de cada residência ou escritório pode ter condições de higiene diferentes das aferidas pelo regulador junto do fornecedor, especialmente considerando a manutenção e a conservação das tubulações e torneiras de cada edifício.
Se calhar a reportagem sugere, ainda, que a AURA deveria adoptar práticas similares aos ambientes domésticos, como ferver a água da torneira antes do consumo. No entanto, essa medida não se aplica ao ambiente de trabalho, onde a implementação seria logisticamente complexa e financeiramente onerosa. Seria necessário investir em equipamentos específicos, como inúmeras chaleiras eléctricas, além de ampliar a equipa dedicada exclusivamente á tarefa de fervura de água para o consumo na instituição, o que não nos parece razoável.
Dito isto, estamos certos que, estamos diante de uma tentativa de desinformar e de denegrir a imagem de uma instituição pública que desempenha papel fundamental na garantia da saúde e do bem-estar da sociedade. Notou-se um esforço deliberado para prejudicar a credibilidade da AURA, alimentando uma narrativa sensacionalista e descontextualizada.
Diante disso, cabe às instituições de comunicação social reflectirem sobre o impacto de suas reportagens. Noticiários que se apoiam em informações incompletas, sensacionalistas ou distorcidas não contribuem para o fortalecimento de uma sociedade informada e consciente. Pelo contrário, promovem a confusão, fomentam desconfiança e prejudicam a credibilidade do jornalismo sério.
O jornalismo responsável deve pautar-se por uma abordagem técnica, clara e isenta de populismos e caça desmedida pelas audiências. É imprescindível que profissionais da comunicação e cidadãos assumam a responsabilidade de promover uma informação ética, que priorize o bem comum e o desenvolvimento social. Dessa forma, podemos construir uma sociedade mais informada, crítica e capaz de reconhecer as diferenças entre fatos e opiniões distorcidas.
