
Regina Vilanculos: A menina que reencontrou a infância no orfanato
Em uma entrevista com o “Podcast Para Elas”, Regina Vilanculos compartilhou sua emocionante história de vida, marcada por perdas precoces, lutas diárias e uma surpreendente reviravolta de esperança. Aos 28 anos, ela relembra com serenidade e maturidade uma infância difícil, onde a responsabilidade e os desafios surgiram cedo demais, mas onde também encontrou no orfanato uma chance de redescobrir a infância, os sonhos e, principalmente, o amor pelo basquete.
Regina perdeu seu pai aos três anos e a mãe aos nove. Nessa época, ela já enfrentava responsabilidades que muitos adultos nem sequer imaginam carregar. “Eu tive que parar de estudar para cuidar da minha mãe. Levava ao hospital, fazia papinhas, cuidava do meu irmão. Tive de ser adulta muito cedo,” contou com um olhar que carrega a dor de um passado difícil, mas também a sabedoria que só o tempo e a superação podem proporcionar.
A situação só piorou quando sua mãe faleceu. Com a perda de ambos os pais, Regina e seus dois irmãos foram acolhidos por vizinhos. Graças a essa ajuda, o trio foi encaminhado ao Orfanato Ministério Arco-Íris, em Zimpeto, onde sua vida começaria a ganhar novos rumos. “Para mim, o orfanato foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na minha vida,” afirmou Regina com convicção, resumindo a importância desse acolhimento em sua trajectória.

Ali, longe das responsabilidades que marcaram sua infância precoce, Regina teve finalmente a oportunidade de ser criança. O orfanato não apenas ofereceu a ela a chance de estudar e ter uma alimentação regular, mas também actividades extra-curriculares que foram fundamentais para sua formação. Entre essas actividades, uma em especial se destacou: o basquete.
Inicialmente, Regina não via o basquete com bons olhos. Apaixonada por futebol, ela resistia à ideia de praticar o desporto. No entanto, foi a insistência de uma educadora que mudou tudo. “No início, eu não queria. Eu amava futebol. Mas a minha educadora foi firme. Disse que eu só teria almoço se fosse ao treino. A pressão era muita!” — contou entre risos, lembrando a pressão inicial que, no entanto, a levou a descobrir sua verdadeira paixão.
Com o tempo, o que começou como uma imposição se transformou em um amor inusitado. “Comecei a gostar e, quando dei por mim, já nem precisava que me obrigassem. Eu mesma ia para o campo antes da hora,” compartilhou, com a alegria de quem encontrou em algo simples um novo propósito de vida. No basquete, Regina não só desenvolveu novas habilidades, mas também encontrou um espírito de equipa e uma oportunidade de crescer, física e emocionalmente.
Hoje, Regina olha para trás com orgulho da jornada que percorreu. Ela se recorda das pessoas que cruzaram seu caminho e fizeram a diferença em sua vida, pessoas que acreditaram nela, mesmo quando ela própria duvidava de si mesma. “Tive muitos anjos. Pessoas que acreditaram em mim, mesmo quando eu mesma duvidava,” disse com gratidão, destacando o poder do apoio e da solidariedade.
Sua história é um testemunho poderoso da importância do acolhimento e da educação para crianças em situação de vulnerabilidade. “Acredito que, se não tivéssemos ido para o orfanato, talvez nem estivéssemos vivos,” afirma com a sabedoria de quem viu a vida dar uma guinada inesperada, mas transformadora. O orfanato não foi apenas um lugar de abrigo; foi o cenário onde Regina e seus irmãos puderam refazer suas vidas, e onde ela teve a oportunidade de recomeçar, de sonhar novamente.

Mas Regina não se limitou ao papel de ex-orfã superada. Ela usou o basquete como uma ferramenta de transformação, superando adversidades e se tornando um exemplo de resiliência. Aos oito anos, ela começou a jogar basquete em campeonatos escolares e, ao longo dos anos, evoluiu para a categoria sénior. O desporto, que para ela representava inicialmente apenas uma forma de preencher o tempo, tornou-se uma verdadeira paixão. Mais do que isso, ele representou a oportunidade de aprender e crescer com outros mentores.
“Ganhei paz e dois pais,” foi assim que Regina descreveu o impacto de dois grandes senhores: Simone Santi e José Checo em sua vida. Eles não apenas ajudaram Regina a se desenvolver como jogadora, mas também a apoiar sua família nos momentos mais difíceis. Ao longo dos anos, Regina, que já enfrentava dificuldades familiares, como a falta de comida e recursos, passou a ser uma referência de coragem e determinação para seus irmãos.
Trabalhando como ajudante de cozinha e dividindo seu tempo entre os treinos e as responsabilidades familiares, Regina provou que é possível recomeçar e buscar um futuro melhor, mesmo quando as circunstâncias parecem insuperáveis. Ela se tornou, assim, um símbolo de esperança para muitas crianças e jovens que, como ela, enfrentam desafios desde cedo.
Hoje, Regina Vilanculos é muito mais do que uma ex-jogadora de basquete. Ela é um exemplo vivo de como a solidariedade, o cuidado colectivo e as oportunidades podem transformar vidas. Sua trajectória é um lembrete de que, em meio aos maiores desafios, sempre há espaço para a esperança e a reinvenção. Sua história inspira e ensina que, por mais difícil que seja o começo, com apoio e determinação, qualquer um pode transformar seu destino.
Regina continua sua jornada, agora como mentora e inspiração para aqueles que, assim como ela, precisam de uma mão amiga para superar os obstáculos da vida. Sua história é, sem dúvida, uma das mais belas provas de que a verdadeira transformação vem do cuidado e da empatia com o próximo.
