Pretendemos popularizar o conhecimento sobre a bolsa de valores

– Advoga Salim Cripton Valá, PCA da BVM

O Presidente do Conselho da Administração (PCA) da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), Salim Cripton Valá, esclareceu que a instituição que dirige tem estado a intervir na promoção da educação financeira, mostrando que os resultados alcançados são positivos, mas é preciso prosseguir com maior ímpeto para acompanhar a dinâmica da sociedade, do sistema económico e financeiro e do maior protagonismo das novas tecnologias de informação e comunicação na actualidade. Acompanhem na íntegra a entrevista por ele concedida.

IMPERDIVEL (I) – Gostaríamos de perceber o que é literacia financeira, quais os seus objectivos e para que camada da sociedade é dirigida?

Salim Cripton Valá (SCV) – A Literacia Financeira e a Educação Financeira são muitas vezes encaradas como um mesmo conceito, como sinónimos um do outro, mas na verdade são graus diferentes do conhecimento sobre matérias financeiras. Educação Financeira está mais directamente relacionado com o conhecimento dos conceitos, por exemplo, o que é uma taxa de juro, o que é uma acção, etc.

Já a Literacia Financeira é o nível seguinte da Educação Financeira, porque não se restringe aos conceitos, mas vai além do mero conceito, explicando o seu significado, para que serve, o que podemos fazer de forma a ter-se um maior domínio das matérias financeiras.

O oposto da Literacia Financeira é a iliteracia financeira, que consiste na falta de conhecimento e de domínio das matérias financeiras, que hoje predominam no nosso quotidiano. A iliteracia financeira é hoje em dia uma das principais causas de exclusão dos cidadãos no mundo das finanças, mesmo que sejam as finanças de pequena dimensão e / ou proximidade.

Para se evitar a exclusão financeira dos cidadãos, o que ocorre nas camadas populacionais com menor nível de habilitações literárias e nas áreas rurais, falamos hoje em dia na necessidade de inclusão financeira dos cidadãos, e da sociedade no seu todo.

O objectivo da Literacia Financeira (muitas vezes designada por Educação Financeira, por ser um termo mais comum, abrangente e compreensível para a maioria da população) é dar a conhecer a toda a sociedade, e em particular aos cidadãos mais desfavorecidos e de baixa renda, os conhecimentos sobre matérias financeiras, naquilo que se designa por inclusão financeira dos cidadãos.

Como já tivemos a oportunidade de referir, a Oferta Pública de Venda (OPV) de acções da HCB foi um exercício concreto de cidadania e inclusão financeira em Moçambique, devido a sua natureza inclusiva, abrangência e uso de meios remotos. Esse tipo de iniciativas vamos continuar a incentivar, pois são uma escola para aprendizagem sobre como usar o mercado de capitais e a BVM como instrumento de empoderamento económico e democratização do capital.

Portanto, a literacia financeira está a ser orientada prioritariamente para os grupos específicos que não tem acesso, ou tem um acesso limitado, a informação e conhecimento sobre o mercado de capitais e a Bolsa de Valores, e também à certos grupos que tem o potencial de disseminar a informação para a sociedade, como os jornalistas, contabilistas e auditores, professores, representantes de associações económicas, gestores públicos e privados, empresários, investidores, entre outros. Os órgãos de comunicação social, as redes sociais, as instituições de educação e investigação, e as associações profissionais são alguns dos actores e canais fundamentais para a disseminação de informação para o público.

I – Acredita que as empresas ou a sociedade em geral tem conhecimentos suficientes sobre a literacia financeira?

SCV – Cada vez mais, gradualmente, a sociedade sente a necessidade de estar devidamente informada sobre matérias de índole financeira, com as quais os cidadãos, as empresas e os investidores se deparam no seu quotidiano.

Um cidadão mal informado enfrenta dificuldades na hora de tomar uma decisão, por falta de conhecimento e de informação, não sabendo optar de forma consciente e sustentada pelas diversas alternativas à sua escolha, quer seja uma decisão sobre que acções deve ou não comprar, ou de qual será a melhor opção de financiamento para a sua empresa, ou o porquê de optar pela aquisição de um activo ou pelo leasing do mesmo.

O nível de literacia financeira actual quer dos cidadãos quer das empresas já é superior ao de alguns anos atrás, mas ainda assim não nos damos por satisfeitos, pois é um trabalho sem tempo limite. O Governo, atento a esta problemática, lançou a Estratégia Nacional de Inclusão Financeira 2016-2021, cuja implementação está a ser liderada pelo Banco de Moçambique, que tem promovido diversas acções de Educação Financeira junto da sociedade.

A BVM tem estado a implementar um robusto e arrojado programa de educação financeira, tendo permitido que mais moçambicanos conheçam melhor o mercado de capitais e a Bolsa de Valores, sobretudo o que é, como funciona, que tipo de produtos e serviços têm a disposição, como acedê-los, quais as vantagens do uso do mercado de capitais, entre outros aspectos relevantes.

Os resultados obtidos até ao momento são positivos e encorajadores, mas o caminho a percorrer no futuro é ainda longo e sinuoso, e exige o envolvimento activo e proactivo não apenas da BVM, mas do regulador do mercado de capitais, dos operadores de bolsa, das instituições de educação e de cultura, dos órgãos de comunicação social e de outras entidades que fazem parte da constelação de instituições do mercado de capitais. É um labor de responsabilidades partilhadas.

I – O que a BVM está a fazer para fazer chegar a mensagem?

SCV – A BVM lançou o seu primeiro Programa de Educação Financeira em Moçambique em 2013, que já vai na sua 3.ª geração, com o lançamento do Programa de Educação Financeira (PEF) para os períodos 2013-2016, 2017-2019 e 2020-2024.

A BVM tem o seu enfoque virado para matérias financeiras relacionadas com o mercado de capitais e a Bolsa de Valores, nomeadamente o financiamento, a poupança e o investimento, e tem dirigido os seus esforços a um universo diversificado de destinatários, desde empresários e investidores, dirigentes e quadros do Estado, representantes de ordens profissionais (em particular associações económicas, jornalistas, contabilistas e auditores e advogados), instituições de ensino e estudantes de todos os níveis de ensino, organizações da sociedade civil, e a sociedade em geral, fundamentalmente através de contactos directos, palestras e seminários, por via dos órgãos de comunicação social e através de redes sociais.

Os resultados alcançados em cada um dos programas mostram que a BVM está trabalhar para contribuir ainda mais para a educação e inclusão financeira dos cidadãos, das empresas e da sociedade no seu todo, como pode ser constatado na tabela que a seguir se apresenta:

O esforço de educação e literacia financeira executado pela BVM tem em vista contribuir para a implementação da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira 2016-2021 e para a Estratégia de Desenvolvimento do Sector Financeiro 2013-2022. De 2017 a 2021, de uma meta planificada de capacitação de 83.050 cidadãos e entidades, foram efectivamente cobertos mais de 121.000 entidades directamente capacitadas, representando uma taxa de sucesso de +146,6%, mesmo tendo em conta as restrições de participação presencial que caracterizaram o período da pandemia da COVID-19 em 2020-2021. As restrições presenciais levaram a BVM a desenvolver as suas acções de Educação e Literacia Financeira utilizando de forma massiva os canais digitais, e lançando novos serviços de difusão de informação bolsista, como o “DashBoard BVM” e o “Mobile BVM”.

I – O que os cidadãos ou empresas devem saber sobre a literacia financeira?

SCV – Vão perceber a importância do que é estar bem informado e o que é informação de qualidade, e como a informação e o conhecimento podem mudar a qualidade de vida dos cidadãos e das decisões com que diariamente somos confrontados neste mundo cada vez mais complexo. Vão saber a diferença entre estar informado e não estar informado, entre ter informação de qualidade e não ter. E vão saber que o maior e melhor investimento que se pode fazer é em nós mesmos, no acesso a mais informação, capacitação e domínio de assuntos financeiros, através de iniciativas de Educação e Literacia Financeira.

Ter informação é uma estratégia de protecção do investidor, diminuindo as incertezas e riscos, permitindo a melhor selecção das modalidades de investimento, onde a decisão de investir está dependente da quantidade da informação incorporada no processo de tomada de decisão, e em que a qualidade da informação possibilita ao investidor uma melhor avaliação das suas opções, e consequentemente, uma melhor decisão.

Nós temos estado a trabalhar com o INDE no sentido de incorporar matérias sobre mercado de capitais e Bolsa de Valores nos currículos das instituições educacionais de nível secundário, como acontece noutros quadrantes do mundo. A informação que os empresários, investidores, outros agentes económicos e cidadãos precisam de dominar não é muito complexa e difícil de ser apreendida, e está ao alcance dos adolescentes, jovens e todos os cidadãos.

O que precisamos aprimorar e reforçar é a nossa capacidade de preparar materiais simples, de fácil compreensão e divulgação, e popularizar a informação e o conhecimento sobre o mercado de capitais e a Bolsa de Valores. É fundamental entender o seu papel basilar para o desenvolvimento de um sistema financeiro robusto, dinâmico e sustentável em Moçambique. É nessa direcção que estamos a orientar a nossa acção estratégica de promoção da educação e literacia financeira.


Categoria: Entrevista

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