Perigo à vista na lixeira de Hulene
Bernardino Bernardo, docente da Universidade Pedagógica de Maputo, Faculdade de Ciências da Terra e Ambiente, doutorando em Geociência com foco para componente ambiental e médica, partilha a sua pesquisa de tese de doutoramento em decurso em Moçambique, na Lixeira de Hulene, na cidade Maputo, intitulada Soil Assessement in the Surrounding Area of Hulene-B Ast Dump, Mozambique, que conta com a coordenação dos Professores Fernando Rocha e Carla Candeia das Universidades de Aveiro e do Porto, Portugal.
A realização da pesquisa tem como objectivo compreender como é que a lixeira de Hulene contamina as águas e subsolos em termos de fluxos de lixiviados que resultam do processo de degradação dos resíduos sólidos e queimadas de lixo e, também pretende-se perceber que mecanismo a lixeira de Hulene pode incrementar para enriquecer as águas subterrâneas de modo que não sejam contaminadas.
Bernardino Bernardo disse que as principais constatações resultantes dos três anos de investigação de dados das modelações geofísicas evidenciam como as plumas de contaminação se mobilizam e como afectam as águas subterrâneas, também os dados mostram grandes níveis de contaminação resultantes de elementos de enriquecimento potencialmente tóxicos de crómio, cobre e o nível de contágio de chumbo no sobsolo, que é extramente elevado na modelação para a saúde, principalmente as crianças que tem um índice de massa corporal menor que os adultos, mas, estão exposto a mesma carga de poluição.
Na mesma senda, Bernardo disse que das oitenta e uma amostras colhidas no limite imediato da lixeira constatou-se a existência de teor muito elevado de elementos potencialmente tóxicos. Portanto, a pesquisa revela como maior preocupação os níveis tóxicos de chumbo e manganês, tendo em conta os efeitos nocivos para a saúde e, que podem criar várias doenças em todas as idades, mas, com maior foco em crianças que até pode criar perturbações do sistema nervoso central, doenças neurodegenerativas, câncer, danos renais e abortos espontâneos, esclareceu o pesquisador Bernardino Bernardo
Para o alcance de resultados preliminares da pesquisa já publicados em número de quatro artigos na revista Geosciences, Bernardo disse que foi feita uma prospecção geofísica numa área de quarenta hectares da Lixeira de Hulene para perceber se a lixeira estava afectar as águas subterrâneas ou não, e constatou-se a existência de áreas muito anómalas no subsolo e nas águas subterrâneas das zonas que há uma drenagem de migração vertical de lixiviados que se mobilizam até as águas subterrâneas, lixiviados esses que resultam do processo de decomposição de resíduo sólidos que se transformam em liquido negro carregado e enriquecido por materiais potencialmente contaminados.
Outrossim, disse o nosso interlocutor, que a prospecção geofísica permitiu detectar as áreas que se pensava que existisse menor emigração dos lixiviados para as águas subterrâneas, não obstante, comprovou-se através de analises químicas das águas de poços activos da evolvente da lixeira numa distância de trezentos a quatrocentos metros, que e os poços evidenciam níveis bastantes elevados de elementos tóxicos incluindo chumbo, mercúrio, manganês e zinco.
Importa referir que as amostras foram feitas secagem no laboratório da Faculdade de Ciências Naturais e Matemática da Universidade Pedagógica de Maputo e posteriormente transportadas para os laboratórios da Universidade de Aveiro para análises físicas, mineralógicas e químicas.
A equipa do GCI UP – Maputo, passou uma manhã com o pesquisador Bernardino Bernardo, na Lixeira de Hulene, numa reportagem com a TVM.