Marcos Muledzera e Padre Dionísio Simbe lançam Gramática de Cisena: “Mwambo wa Cisena”

Os autores Marcos Muledzera e Padre Dionísio Simbe lançam Gramática de Cisena. Intitulado “Mwambo wa Cisena”, a obra a ser apresentada hoje, na Escola Internacional de Maputo (Upper School), é da chancela da TPC Editora na sua Colecção Xikalavitu.

A presente obra, que será apresentada por Pedro Chico Rafael, pretende complementar, enriquecer e actualizar trabalhos anteriores em matéria de linguagem, ortografia e dar relevo a aspectos mais laicos do Cisena. Note-se igualmente o facto de esta gramática ter sido escrita por falantes natos de Cisena. Esperamos que a mesma tenha um valor acrescentado porque parte do conteúdo tem particularidades linguísticas que só se aprendem no leito materno.

Uma outra questão que pode ter alguma relevância são os possíveis destinatários deste “Mwambo wa Cisena”, a destacar: pessoas que têm o Cisena como sua língua materna; filhos/familiares de falantes de Cisena; não falantes de Cisena/estrangeiros; Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano/INDEP e pesquisadores de Linguística/estudantes.

“Estamos cientes que a missão que nos propusemos empreender é difícil e desafiante, por isso, não faltarão razões para contestar a legitimidade da obra”, destacam os autores.

Ainda não há, por exemplo, consenso sobre a ortografia certa. Foi feito um louvável trabalho por pesquisadores da Universidade Eduardo Mondlane no âmbito da Padronização da Ortografia de Línguas Moçambicanas, trabalho esse que vem reflectido nos relatórios de três seminários até aqui realizados. Na medida do possível, “nós nos propusemos seguir as regras contidas nesse projecto, nomeadamente, as propostas das variantes identificadas”, acrescentam.

Nesta obra foi adoptada a variante “Sena Gombe”. Mesmo assim, também foram especificadas ao longo da obra, outras variantes em uso em Cisena.
Devido à extensão geográfica do território em que é falado, são reconhecidas as seguintes variantes de Cisena: Sena Tonga, Sena Caia/Gombe, Sena Bangwe, Sena Phodzo, Sena Gombe e Sena Gorongozi.

Em Moçambique, o Cisena é a língua materna de cerca de 60% da população na província de Sofala, 30% em Manica, 30% em Tete e 10% na Zambézia.

Até aos anos 1880, os falantes de Cisena centravam-se ao longo do rio Zambeze. A sua deslocação para sul estaria eventualmente ligada ao estabelecimento da povoação e cidade da Beira (1887) e à posterior abertura da ferrovia entre a Beira e a vila de Sena, construída pela britânica Trans Zambezi Railways (1922). Actualmente, o Cisena é a língua bantu demograficamente predominante da Beira, tendo permanecido durante longos anos como a única língua da liturgia católica; uma vez que os falantes da outra língua importante da Beira, o Cindau, eram sobretudo protestantes.

Na sequência da implementação de um projecto da responsabilidade do Ministério de Educação de Moçambique, designado PEBIMO (projecto de ensino bilingue) desde 2004, o Cisena passou a ser lecionanda no ensino oficial em escolas rurais de alguns distritos das províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia, corporizando o ensino bilingue.

O Cisena é leccionado como língua de ensino durante os primeiros anos escolares, passando a disciplina nos níveis subsequentes do Sistema Nacional de Educação.

A cerimónia de lançamento da obra “Mwambo wa Cisena”, será animada pelo grupo de declamadores Vozes Anónimas, João Borges Namelo e Baba Harris, bem como pelo músico Esaú Menezes. (RM)


Categoria: Cultura

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