
Maputo debate sustentabilidade digital comunitária
O sol da manhã filtrava-se suavemente pelas janelas do auditório onde, com um misto de expectativa e responsabilidade, representantes de instituições públicas, especialistas em tecnologia, líderes comunitários e membros da sociedade civil se reuniram. Ali, no coração da cidade de Maputo, teve início o Seminário de Socialização da Proposta do Modelo de Gestão Sustentável dos Centros Multimédia Comunitários (CMCs) e das Praças Digitais, um momento simbólico que marca uma nova etapa na busca por um Moçambique digitalmente mais inclusivo.
A cerimónia foi dirigida pela Secretária Permanente do Ministério das Comunicações e Transformação Digital (MCTD), Nilsa Miquidade, que subiu ao púlpito com a convicção de quem reconhece que o acesso à tecnologia, hoje, é mais do que uma ferramenta — é uma ponte para o desenvolvimento. Em seu discurso, Miquidade destacou que o seminário representa o culminar de um extenso processo de auscultação às comunidades, autoridades locais e análise de documentos legais e institucionais. Um caminho trilhado com o ouvido atento e o olhar voltado para a realidade do cidadão comum.
“Queremos um modelo de gestão que reflita as sensibilidades do nosso povo, que seja realista e alinhado com as necessidades das comunidades”, afirmou. Para Miquidade, a transformação digital só se concretiza quando chega às zonas mais remotas e desfavorecidas do país, tocando a vida dos que mais precisam. O desafio lançado aos participantes foi claro: reflectir profundamente sobre o papel das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) como catalisadoras de crescimento e inclusão social.
A proposta em debate, concebida com o suporte técnico do Centro de Investigação e Transferência de Tecnologias para o Desenvolvimento Comunitário (CITT), foi apresentada por seu Director Geral, Henriques Cau. Com uma abordagem prática e colaborativa, Cau sublinhou que o seminário tem como principal objectivo colher contribuições para enriquecer o modelo antes da sua submissão para aprovação e implementação em todo o país.

“A ideia é simples, mas poderosa: garantir que os CMCs e as Praças Digitais deixem de ser apenas infraestruturas e se tornem motores vivos de desenvolvimento”, defendeu Cau, lembrando que a sustentabilidade exige envolvimento, inovação e sobretudo, apropriação local.
Na mesma linha, Cláudia Esmael, Secretária Executiva do Fundo de Serviço de Acesso Universal (FSAU), trouxe à tona uma preocupação essencial: a conexão entre os que têm acesso às tecnologias e os que ainda vivem à margem do mundo digital. “Não basta instalar equipamentos. É preciso garantir durabilidade, impacto e autonomia. A tecnologia deve servir como alavanca para transformação social real”, afirmou, provocando reflexões sobre o futuro dos projectos tecnológicos no país.
O seminário, promovido pelo MCTD em coordenação com o CITT, o Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM) e o FSAU, não se limita a um exercício técnico. É, acima de tudo, um espaço de diálogo e de construção colectiva de um futuro digital inclusivo. Um passo estratégico que procura alinhar políticas públicas com a realidade das comunidades, visando garantir não só o acesso, mas também o uso significativo da tecnologia.
Entre anotações, debates e apresentações, o que se desenhava ali era mais do que um modelo de gestão: era uma visão partilhada de um Moçambique onde a digitalização não é privilégio, mas direito. Um país onde uma criança em Inhambane, um jovem em Niassa ou uma mulher empreendedora em Nampula possam ver, na tecnologia, uma aliada para mudar suas vidas.
