Estamos todos “lixados”!

Nos últimos tempos, tenho notado coisas inacreditáveis. Casais se traindo, amigos se apunhalando pelas costas e colegas de trabalho ou de escola se odiando sem motivos palpáveis. Familiares que não se falam há tempo, culpam uns aos outros!

Afinal, o que está a acontecer hoje em dia? Matamos por nada, criamos intrigas e fofocas sem mais e nem menos. O pior é que falamos mal das pessoas que convivem connosco diariamente. Falamos mal do patrão, do empregado, do vizinho e até dos nossos próprios filhos.

Que sociedade pretendemos construir com intrigas e ódio? Ora reflictamos: todos conhecemos as abelhas e as formigas, da maneira que trabalham e do modo como se apoiam entre elas. Elas trabalham unidas em prol de uma causa, independentemente das dificuldades que possam enfrentar ao longo do percurso, não desistem, lutam até as últimas consequências e sempre unidas.

Na nossa sociedade, ao invés de juntarmos as mãos e juntos caminharmos, acontece ao contrário! Preconceitos e intolerância são os que mais reinam hoje em dia. A solidariedade já se foi, ninguém quer ajudar o outro, mesmo se o outro estiver a beira da morte.

Um certo dia, a caminho do serviço, deparei-me com uns “bandidos”, os vulgos molwenes na zona do mercado estrela. Mandaram-me parar e queriam que eu lhes orientasse, dar algum valor para saciarem os seus vícios.

Como eu não tinha nenhum dinheiro para dar, olharam aquilo como se fosse um desacato. Pegaram-me na tentativa de me arrancar o telemóvel que eu trazia nas mãos. Eu resisti e acabaram ficando com o meu guarda-chuva, já que estava a chover. Escapei! Em tudo isso, o que me inquietou foi o facto de as pessoas ao redor assistirem aquele momento de tortura sem fazerem nada para me apoiarem.

No fim, uns perguntavam o que aconteceu e outros, não te levaram nada? Sinceramente, falei comigo mesmo: “moçambicano é solidário ya”! E se eu tivesse morrido de quem seria a culpa? Essa é uma pergunta para reflexão.

Com isso quero eu dizer que, se pretendemos justiça e equilíbrio é necessário que todos juntos unamos forças. Se assim fizermos podemos ter a certeza que o planeta será um lugar melhor para cada criatura que nela vive.

Há pessoas que nasceram para lixar a vida dos outros. Colocar os outros por baixo dos seus pés ou comer nas suas mãos. Seja nas famílias, nas comunidades, nos bairros, no trabalho, na vizinhança, até nas formações políticas, religiosas e nas organizações não-governamentais, todos querem lixar a vida do seu próximo.

Deixemos esta mentalidade! Vamos unir forças e levantar os mais fracos para que sejam fortes. Não pisoteá-los e humilhá-los. Não é humilhando os outros que você se destaca, muito pelo contrário. As boas acções sempre trazem recompensa, tarde ou cedo!

Moçambique tem mais de 30 milhões de habitantes, a maioria deles pobres, mas elegemos um governo para nos servir, criar condições para uma boa convivência. Porém, em contrapartida, este governo democraticamente eleito e que prometeu escolas melhores, bons hospitais, vias de acesso, água potável, energia eléctrica e transportes, o mesmo nos lixa.

Escolas precárias e sem carteiras, hospitais sem condições, caracterizados pelo mau atendimento aos doentes, água que não chega para todos, nem tão pouco a energia eléctrica, etc, etc, etc…

Estamos todos lixados! Olhemos ao nosso redor, todo o mundo é falso e vive na falsidade. Falta-nos a lealdade, comprometimento, amor-próprio e ao próximo. Estamos “lixados”!…

Autor: Júlio Saul


Categoria: Opinião

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