Empresas do agro-negócio instadas a usar Mercado de Capitais e a BVM
Intervindo no Painel sobre “Finanças Combinadas Acelerando a Transformação dos Sistemas Alimentares”, realizado no dia 23 de Novembro de 2022, em Maputo, Salim Valá defendeu que as empresas do agro-negócio e do sector agro-alimentar e nutrição podem aproveitar a janela de oportunidade que é o mercado de capitais e a BVM como mecanismo de financiamento alternativo para viabilizar os seus projectos de negócio. Num país onde mais de 70 % da população dedica- -se à agricultura e a outras actividades a ela correlacionada, em toda a sua cadeia de valor, e contribuindo com cerca de 23 % para o PIB nacional, não estamos conformados com o facto de nenhuma empresa do sector agrário estar cotada na BVM, nem a usar outros instrumentos disponíveis na bolsa como as obrigações corporativas e o papel comercial. Durante a sua intervenção, o responsável da BVM – Convite feito pelo PCA da BVM, Salim Cripton Valá, durante a 4ª Conferência Anual da Rede de Empresas para a Expansão da Nutrição (SBNMOZ), promovido pela Gain referiu que as PME´s do sector agro-alimentar são um desafio para o financiamento, pois os montantes demandados por elas são baixos, não possuem garantias reais, não tem um histórico significativo de financiamento, não possuem contabilidade organizada e as perspectivas de crescimento são incertas, comportando elevado risco e o potencial de retorno é relativamente reduzido.
Por outro lado, a baixa produtividade, principalmente devido a reduzida intensidade de insumos e fraca adopção de tecnologias modernas, as margens de lucro exíguas, a elevada exposição aos eventos climáticos extremos, a fraca infraestrutura física e institucional de suporte e a deficiente ligação de mercados, tornam o negócio menos apetecível para os empreendedores e investidores.
O financiamento tem sido apontado como um dos principais constrangimentos para o crescimento e sustentabilidade do sector agro-alimentar, quer devido as elevadas taxas de juros aplicadas quer em virtude da falta de mecanismos financeiros inovadores e adequados especificamente para o financiamento ao agro-negócio de pequena e média dimensão.
A BVM tem disponíveis mecanismos alternativos de financiamento para as empresas moçambicanas, incluindo do sector agrário, por via do capital da própria empresa que é uma fonte potencial de financiamento, permitindo dispersar o risco do negócio e beneficiar de taxas de juros mais baixas, além de que usando a plataforma da bolsa é possível ampliar a visibilidade da empresa e do negócio. O PCA da BVM referiu- -se ao trabalho que tem sido feito para permitir que o mercado de capitais e a Bolsa de Valores seja mais conhecida e usada, desmistificando a “visão de Bolsa só para as elites”, consciencializar as empresas para adoptarem o figurino jurídico de Sociedade Anónima pois isso favorece a transparência e boa governação corporativa, mobilizar parcerias com a CTA, IPEME, ACIS, entre outras instituições, que permitam melhorar a saúde económico-financeira das empresas. Mostra-se pertinente disseminar ao sector empresarial, em particular as PME´s, que existe uma multiplicidade de mecanismos de financiamento como, por exemplo, os bancos comerciais e de investimento, microfinanças, “leasing”, “factoring”, “business angels”, “crowdfunding”, fundos de capital de risco, garantias mutuárias, fundos de fomento públicos, linhas de crédito especiais para as PME´s, mercado de capitais e Bolsa de Valores, seguro contra riscos, entre outros. O importante é que o empresário saiba, para cada necessidade de financiamento, que tipo de mecanismo é o mais apropriado e que garanta a sustentabilidade do negócio.
Desde 2017 foram cotadas na BVM nove (9) empresas, das áreas de serviços e investimento, indústria alimentar, publicidade, energia, infraestruturas, seguro e tecnologias. Brevemente teremos cotada em bolsa a Tropigalia, uma empresa de comércio e produtos de consumo, com presença em todas as províncias do país, e que obteve na BVM, recentemente, um financiamento de 344 milhões de meticais (cerca de 5,5 milhões de USD) para os seus projectos de investimento e expansão.
Actualmente temos uma capitalização bolsista de 151.100,45 milhões de meticais (cerca de 2.367 milhões de USD), o que corresponde a 22,12 % do PIB. Projectamos ter, até Dezembro de 2026, 30 empresas cotadas em bolsa, e uma capitalização bolsista de cerca de 35% do PIB do país, ou seja, uma capitalização bolsista similar à média da África Sub-Sahariana. Salim Valá referiu, a finalizar, que “estamos a trabalhar para que, no futuro, tenhamos empresas ligadas ao agro-negócio, turismo, complexo mineral-energético, infraestruturas, sector financeiro, projectos de exploração de recursos naturais, cotadas no mercado bolsista moçambicano”.