A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) fez um convite às empresas que têm facturas de importação ou compromissos em aberto há mais de três meses, sem pagamento, para submeterem as cópias das mesmas em seus escritórios. O objectivo é encaminhá-las ao Banco de Moçambique (BM) para pagamento. O anúncio foi feito durante uma Conferência de Imprensa, em resposta a um pronunciamento do Banco Central, que afirmou que os bancos comerciais não enfrentam dificuldades em disponibilizar moeda estrangeira, contradizendo as queixas do sector privado.

O Presidente da CTA, Agostinho Vuma, destacou que as empresas têm cinco dias para submeter as facturas, seja presencialmente ou por e-mail. A lista das empresas será então encaminhada ao BdM. Esta acção não é inédita; em um episódio anterior, a CTA apresentou uma lista de empresas com facturas não pagas, estimando um montante de 402 milhões de dólares americanos no terceiro trimestre de 2024.

Durante um encontro com representantes do BM, a CTA levou 15 empresas afectadas para discutir as razões dos atrasos nos pagamentos, mas até o momento não houve uma resposta concreta.

EVIDÊNCIAS DA ESCASSEZ DE DIVISAS

A CTA trouxe dados para comprovar que os bancos comerciais enfrentam dificuldades para disponibilizar moeda estrangeira. Embora tenha ocorrido uma leve recuperação nas operações de permuta de liquidez entre os bancos no quarto trimestre de 2024, os volumes continuam drasticamente abaixo dos níveis de 2023 e 2022, chegando a valores históricos baixos no segundo trimestre de 2024, com 5,5 milhões de dólares.

Além disso, as operações de compra e venda de moeda entre os bancos e seus clientes indicaram que as compras de moeda estrangeira pelos bancos aumentaram 18% no período de 2024, enquanto as vendas cresceram apenas 7%. Isso sugere que a liquidez em moeda estrangeira está sendo retida pelos bancos, em vez de ser repassada para os clientes.

Em 2024, os bancos comerciais absorveram cerca de 1,8 bilhões de dólares de seus clientes, enquanto seus activos externos líquidos diminuíram em 12,8% de 2023 a 2024. Essa acumulação de obrigações externas pelos bancos, somada à redução da permuta de liquidez e o fim das intervenções do BdM no mercado cambial, resultou na retenção de divisas.

Além das evidências de retenção de divisas, a CTA também destacou os sectores mais afectados por essa escassez de moeda estrangeira. A indústria transformadora, que depende da importação de matérias-primas e equipamentos, e o sector de turismo, particularmente as companhias aéreas internacionais, estão a enfrentar dificuldades. As companhias aéreas suspenderam a emissão de bilhetes em algumas agências de Moçambique, devido à dificuldade de repatriar as receitas, que devem ser convertidas em dólares.

Categoria: Economia