Em uma conversa franca e inspiradora, Crisalda Chemane, coordenadora e treinadora do projecto Lazio-Colors, compartilhou sua experiência de trabalho com jovens, especialmente meninas, em comunidades desfavorecidas. O projecto, que visa promover a inclusão e o desenvolvimento de crianças no desporto, tem sido uma plataforma para dar visibilidade ao potencial feminino no basquete e ajudar a moldar o futuro de muitas jovens.

Crisalda, que dedica sua carreira ao desporto e à formação de novas atletas, descreve com entusiasmo o trabalho que realiza com meninas e meninos, sendo uma das poucas mulheres à frente de equipas de basquetebol. “O maior desafio, de início, é motivar a criança a interessar-se pelo desporto. Muitas delas chegam com pouca ou nenhuma experiência, e precisamos despertá-las para o prazer de praticar”, afirmou.

Além de motivar as crianças, Crisalda também lida com as dificuldades impostas pelas famílias. Em muitas comunidades, os pais e responsáveis veem as meninas como menos aptas a se engajar no desporto, especialmente em actividades que exigem presença regular, como o treinamento de basquetebol. “A resistência por parte dos pais é grande. Eles alegam que as meninas têm responsabilidades domésticas, como lavar a louça ou cozinhar. Nosso trabalho é convencer que o desporto também é uma oportunidade de desenvolvimento pessoal”, explica Crisalda.

Apesar dos obstáculos, a treinadora enfatiza a importância do diálogo constante com as famílias. “É essencial que os pais entendam que o desporto é uma ferramenta valiosa para o crescimento das crianças e que o tempo de treinamento é uma preparação para algo maior. Em muitas situações, conseguimos chegar a um consenso que permite que as meninas treinem e sigam suas paixões.”

 Importância do compromisso com a formação

Quando questionada sobre suas metas como treinadora, Crisalda destaca a importância de acompanhar o crescimento das crianças, desde o início da jornada até o possível ingresso nas selecções nacionais. “Minha maior meta é formar jovens que, um dia, possam representar o país no basquete e, mais importante, que sirvam de inspiração para outras crianças”, afirmou.

Embora não tenha formado jogadoras que chegaram à Selecção Nacional, Crisalda já teve a oportunidade de trabalhar com atletas, cujo uma delas integrou a Selecção Sub-15. Ela acredita que a base do desporto está na formação das gerações mais novas e que cada criança que passa por suas mãos pode ser uma futura estrela.

Superando barreiras sociais

Além dos desafios práticos do dia-a-dia, Crisalda também enfrenta um obstáculo cultural significativo: o preconceito de que mulheres não podem ser treinadoras ou líderes no desporto. “A sociedade ainda tem dificuldade em aceitar a presença de mulheres em cargos de liderança no desporto. Isso é um desafio constante, mas não uma barreira intransponível”, destacou. Para ela, o trabalho de uma treinadora vai além de ensinar a técnica do desporto; é também uma forma de empoderamento e uma mensagem clara de que as mulheres podem ocupar espaços de liderança.

Ao concluir, Crisalda deixou uma mensagem de encorajamento à comunidade, especialmente aos pais e responsáveis. “Apostem mais no desporto, não apenas no basquetebol, mas em todas as áreas. O envolvimento das crianças nas actividades desportivas pode ser o começo de um futuro promissor. É importante que os pais liberem as crianças para treinar e as acompanhem nesse processo. O desporto é uma forma de formação integral e pode transformar vidas”, afirmou.

Com seu trabalho no projecto Lazio-Colors, Crisalda Chemane continua a inspirar jovens atletas e a construir um caminho para o futuro, enfrentando desafios com paixão e comprometimento. Seu trabalho é um exemplo de como o desporto pode ser uma ferramenta de inclusão, superação e empoderamento.

Categoria: Desporto