CPLP Será Responsável Pela Produção Mundial de Petróleo e Gás
O antigo ministro português dos Negócios Estrangeiros, António Martins da Cruz, considerou na última sexta-feira, 27 de Outubro, que, em 2035, os países-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) representarão 15% a 20% do petróleo e do gás produzidos no mundo.
O diplomata, que abordou, numa conferência em Lisboa, os limites, positivos e negativos, da CPLP, salientou que a importância da organização lusófona não se resume às cimeiras que se vêem na televisão, e destacou a concertação político-diplomática.
“A nossa cooperação com a CPLP não é apenas uma cooperação entendida em sentido estrito, porque há vários sectores do Governo, da Justiça, que se reúnem periodicamente para avaliar a situação e para tentar fórmulas de cooperação. A CPLP não se resume às cimeiras que nós vemos nas televisões”, acrescentou.
Martins da Cruz, que intervinha no último painel da conferência internacional “Portugal na relação da Europa com a América Latina e África”, considerou ainda que a CPLP “tem uma actividade diária e uma actividade importante que não são limites”, tendo dado relevo ao facto de a organização representar actualmente 270 milhões de habitantes, ou seja, 3,7% da população mundial, “e mais de 3% do PIB mundial. Hoje os países da CPLP produzem 6% do petróleo produzido no mundo e um bocadinho mais de 1% do gás. E as projecções são, quando começarem a ser explorado, por exemplo, o gás do norte de Moçambique, o petróleo que existe ‘offshore’ em São Tomé e as perspectivas que se abrem no Brasil e em Angola, em 2035, a CPLP vai representar entre 15% a 20% do petróleo e do gás produzidos no mundo”, adiantou.
Trata-se, defendeu, de uma “perspectiva económica muito importante e que nem sempre é falada”, salientou o antigo chefe da diplomacia portuguesa.
Se no sector da energia se verifica esta relevância da CPLP, no domínio do comércio externo português Martins da Cruz traçou um cenário negativo.
“Os países da CPLP, incluindo o Brasil, se retirarmos o aspecto de energia que representa, têm vindo a baixar na importância do comércio externo português, quer a nível de mercadorias, quer a nível de serviços. As nossas exportações para a CPLP não chegam a 4% do total. E isto é o limite da CPLP. Deviam ser mais. Nós temos um comércio externo orientado sobretudo para a União Europeia”, referiu, enumerando que a UE representa mais de 70% do comércio externo português.
“E este é obviamente um limite económico ao qual não podemos fugir e prejudica a CPLP. Angola já foi o nosso quinto mercado de exportação. Hoje não está nem sequer nos dez primeiros, por razões que têm que ver com a situação económica mundial e com as guerras que atravessamos”, explicou.