
Jorge Ferrão relembra iniciativas que marcaram o ensino fundamental
A paixão pela educação não é apenas uma escolha profissional para Jorge Ferrão — é uma marca identitária. Actual Reitor da Universidade Pedagógica de Maputo e antigo Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano, Ferrão carrega consigo uma visão humanista e comprometida com a transformação do ensino em Moçambique.
O reitor reflecte sobre um capítulo decisivo da sua trajectória: a passagem pelo Ministério da Educação, há cerca de uma década. Com fala pausada e segura, relembra uma série de iniciativas lançadas na altura que, segundo ele, tinham um propósito claro: “devolver a esperança às escolas do ensino fundamental”.

O projecto então concebido baseava-se em três pilares essenciais: reactivar os conselhos de escola, melhorar as infraestruturas escolares e promover o envolvimento comunitário no processoeducativo. “Era o possível diante de tantas vicissitudes e dificuldades”, afirmou Ferrão, destacando o apoio recebido de empresas e do chamado “Clube dos Amigos da Educação”.
Foram mobilizadas milhares de carteiras escolares, gesto que, embora simples, teve um impacto profundo. “Vimos o sorriso das crianças e dos seus familiares regressarem aos seus rostos e corações”, lembra, emocionado.

A estratégia incluía escutar professores e famílias, valorizar os educadores e reforçar o papel dos conselhos escolares como espaços de participação. “Os professores sentiram que poderiam dirigir suas escolas com responsabilidade, sem metas impostas, mas com partilha de decisões”, explica.
Entre os destaques daquela fase, esteve também a criação de um prémio nacional para os melhores professores de cada província, o que reavivou o espírito de emulação. Alguns chegaram a viajar para a Turquia, numa experiência de intercâmbio apoiada por parceiros como o FASE (Fundo de Apoio ao Sector da Educação) e a Parceria Global para a Educação.

Revisitando o passado, Ferrão cita um ideal que evoluiu: “Se antes se dizia que a escola era uma base para o povo tomar o poder, hoje acreditamos numa missão ainda mais duradoura: fazer de a escola a base para o povo tomar o saber”.

Apesar dos avanços, reconhece que ficou uma dívida por saldar: o estatuto da carreira docente. “Valorizar o professor é essencial para que esta seja uma profissão digna e estável, e não apenas um trabalho em tempo parcial”, afirma. Para Ferrão, o compromisso com a educação começa em casa e deve ser reforçado por toda a sociedade.

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