EXPEDITO ARAÚJO: TRINTA ANOS DE UMA CARREIRA DEDICADA AO TEATRO

A celebração de uma trajectória marcada por paixão, resistência e transformação. Assim pode ser definido o momento actual de Expedito Araujo, artista multifacetado que, em setembro de 2025, completa 30 anos de carreira no teatro — oito dos quais vividos intensamente em Moçambique.

“Muito boa tarde. Para começar, meu nome é Expedito Araujo”, ele diz com um sorriso sereno, mas vibrante. A introdução simples logo dá lugar a uma narrativa rica, marcada por marcos pessoais e profissionais: “Este é um momento muito especial na minha carreira. Não contei para ninguém ainda — é inédito para você — mas agora em setembro comemoro 30 anos de carreira”.

Expedito começou no teatro ainda adolescente, aos 14 anos, no Teatro Tablado no Rio de Janeiro e nunca mais parou. Actor, director — ou como é chamado em Moçambique, encenador —, professor e gestor cultural, ele acumula mais de 50 espetáculos e performances no currículo. Já trabalhou com televisão no Brasil, actuou e colaborou como consultor cultural em mais de cinco países, espalhados pelos quatro continentes, tendo também dirigido centros culturais e atuando na criação de programas culturais. “Me sinto privilegiado por comemorar 30 anos ininterruptos nessa carreira. Num mundo onde as artes enfrentam tantos desafios, é preciso muita paixão para seguir.”

E é justamente essa paixão que o move. “O teatro é a minha vida. Não é um trabalho que você encerra ao fim do expediente. Ele está em mim o tempo todo. Me motiva, me dá saúde, me move para a frente.”

Desde 2017, quando se mudou para Maputo, Expedito tem sido uma peça-chave na cena teatral local. Além de ministrar aulas para diversas turmas, ele conduz processos cénicos que resultam em espetáculos autorais, com forte engajamento dos alunos. “É tudo muito especial. Eu vejo o brilho nos olhos de quem está a começar. E isso renova minha própria energia.”

Parte fundamental desse trabalho é realizado em parceria com o Instituto Guimarães Rosa – Maputo, da Embaixada do Brasil em Moçambique. “É uma colaboração de sete anos. Hoje, temos um espaço consolidado, com uma programação cénica regular, fomentando o teatro como um lugar de expressão, formação e resistência.”

A resistência como forma de arte

Expedito não hesita em afirmar que manter a arte viva exige apoio — algo que, infelizmente, é raro. “Tudo isso que faço aqui também é possível graças ao apoio do Maputo WaterFront, meu patrocinador há mais de cinco anos. São poucas as entidades privadas que acreditam e investem na cultura. E isso precisa ser reconhecido”.

Brasil e Moçambique: dois palcos, muitas histórias

Ao falar sobre as diferenças entre Brasil e Moçambique, Expedito evita comparações directas. “O Brasil tem uma indústria criativa madura, com leis de incentivo e uma história longa. Já Moçambique está a comemorar agora 50 anos de independência. São realidades diferentes, não cabe dizer o que é melhor ou pior.”

Ainda assim, ele destaca como sua prática teatral se adaptou ao novo contexto. “No Brasil, actuei em espetáculos grandiosos, com grandes nomes, grandes palcos. Aqui, o teatro que faço é outro. É o que Grotowski (director de teatro polonês) chama de ‘teatro de essência’, aquele que se faz com pouco, com o nosso psicofísico, mas que é imenso em verdade.”

Uma celebração contínua.

Para Expedito, os 30 anos de carreira não marcam um ponto de chegada, mas um novo começo. “Tudo o que estou a fazer este ano carrega o espírito dessa celebração. É um ciclo que se renova. Continuo ensinando, aprendendo, encenando. Porque, na verdade, o teatro é isso: um espelho da vida, em constante transformação, uma grande reflexão sobre a nossa condição humana.”

E, enquanto fala, seus olhos brilham como se estivessem num palco, diante de uma plateia invisível, mas sempre presente: a da memória, da resistência e da arte que, como ele, segue firme, apaixonada e em movimento (Júlio Saul e Fábio Muiale).


Categoria: Cultura

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