Shafee Sidat projectaum Marracuene radiante
Éconsiderado como um homem íntegro, honesto, trabalhador, dono de convicções próprias e comprometido com as causas sociais e humanitárias. É amante do desporto desde tenra idade. Já exerceu vários cargos na área desportiva e sente-se orgulhoso por ter sido uma das pessoas que mais levou jogadores moçambicanos para fora do país. Há dois anos foi confiado o cargo de administrador do distrito de Marracuene, província de Maputo, função que exerce com muita determinação e abnegação. O seu maior sonho como pessoa e dirigente é o de colocar Marracuene noutro patamar e de ver o seu povo a não reclamar tanto, apesar de os problemas ainda prevalecerem. Estamos a falar de Shafee Sidat, o homem que está a projectar a vida de Marracuene além-fronteiras. Acompanhe os detalhes da entrevista nas linhas que se seguem.
PERGUNTA (P) – Fale-nos um pouco da sua infância?
Shafee Sidat (SS) – Nasci em Ressano Garcia e lá vivi até aos meus três anos de idade. Não fiz a minha infância, como tal, em Ressano Garcia, mas, sim, na cidade da Matola, no bairro do Cinema 700. Fui uma das pessoas que viu a construção e estive igualmente na inauguração do primeiro filme do Cinema. Vivi lá até aos meus 12 anos de idade. Primeiro na zona do Cinema 700 e mais tarde para o bairro Hanhane. Fiz uma parte do ensino primário na Escola de Bagamoyo, na cidade da Matola, e depois disso, os meus pais transferiram-se para a cidade de Maputo, bairro da Malhangalene. Fiz a outra parte de ensino primário na Escola 7 de Setembro, daí fui para a Noroeste II, depois passei pela Escola Secundária Francisco Manyanga e mais tarde fui para a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), onde cursei economia, faltando apenas a defesa, mas depois completei o ensino superior com a licenciatura em Gestão de Empresas. Este é o meu trajecto académico, mas, naturalmente, a parte da minha vivência e depois da Matola foi na cidade de Maputo.
P – Como foram as suas brincadeiras na infância?
SS – As minhas brincadeiras de infância, praticamente na cidade da Matola, eram às escondidas, jogava berlindes, palitos. Aquelas brincadeiras de verdade e não as de hoje. Jogávamos a cabra-cega, na escola, o jogo de “polícia e ladrão” e o futebol, a minha principal paixão.
P – Quais foram os momentos marcantes no desporto?
SS – Como era apaixonado pelo futebol, joguei para o Ferroviário de Maputo. De iniciados, juvenis a juniores, joguei com João Chissano e muitas outras figuras importantes, e sempre fui efectivo nas equipas por onde joguei. Mais tarde transferi-me para o Maxaquene, actuando na equipa sénior. Lá joguei com Ferreira, mas muito pouco tempo, pois o Ferroviário moveu uma acção de disciplinar contra mim e fiquei dois anos suspenso. Depois disso, fui jogar o futsal, jogando primeiro na TAP, na Bonifica, no BPD. Para além daquelas brincadeiras de criança de que falávamos, a minha infância girou praticamente em torno do futebol. Coisa curiosa é que joguei basquetebol com Esperança Sambo, naquelas brincadeiras no campo Estrela Vermelha. Com a Emília Moiane, por exemplo, jogámos muito o andebol na brincadeira, mas não era a minha modalidade preferida.
P – Ainda nos anos 80, Sidat abraçou outras modalidades e de lá tornou-se empresário FIFA. Conte-nos esta experiência?
SS – Passei a jogar muito à sério o futebol de salão, hoje futsal. Fomos nós que transformamos esta modalidade em Futsal, com grandes campeonatos. Mas depois disso, não larguei o desporto. Fui empresário FIFA e me orgulho de ter sido o empresário que mais jogadores levou para fora do país. Estou a falar de Simão Mathe, Dário Khan, do Mano, Jerry, Zainadine, Mexer e muitos outros. Antes de ser empresário FIFA, fui director desportivo de dois notáveis clubes, nomeadamente Ferroviário de Maputo, onde fomos campeões nacionais, e do Maxaquene, onde oito anos depois, também, conquistamos o campeonato nacional. Então, dizer que fiquei muito ligado ao futebol. O basquetebol e outras modalidades fui apenas como jogador e não como adepto e não como dirigente, embora tenha uma menção honrosa e um galardão da FIBA-África pelo meu empenho e trabalho no basquetebol concretamente na organização de um dos campeonatos africanos, que se realizaram em Moçambique.
P – Shafee Sidat tem participado em acções humanitárias. Fale-nos do seu envolvimento nessas acções?
SS – Já estive muitos anos envolvido em acções humanitárias. Estive, por exemplo, na Síria durante o conflito, pouca gente sabe disso. Estive também no tsunami da Indonésia. Fui uma das poucas pessoas que conseguiu entrar na Indonésia. Estive também no conflito da Birmânia. Estive em Bangladesh a receber refugiados que vinham da Birmânia. Também fui uma das primeiras pessoas que informou, através das redes sociais, da chegada dos ciclones Idai e Kennedy. Se forem a acompanhar, muito antes de qualquer órgão competente o fazer, eu tinha informado que teríamos essas catástrofes, com 15 ou 20 dias antes da sua ocorrência. E fui das primeiras pessoas a chegar ao local para ajuda humanitária através de organizações internacionais. Em 2000, já estava no ciclone que afectou à província de Gaza e com a mesma organização, 20 anos depois estávamos em Sofala, mas, desta vez, mais organizada com helicópteros, barcos, ambulâncias e outros meios de socorro. Fomos os primeiros a chegar lá. Trabalhei com a Marinha de Guerra Indiana e outras organizações no âmbito do ciclone Idai. No Kennedy fiz a mesma coisa. Fui em apoio à população através de algumas organizações com quem eu trabalhei, a Comunidade Muçulmana, mas também estive na questão dos insurgentes quando houve ataque 40 imperdível a 21 DE AGOSTO DE 2023 SOCIEDADE ao Mucojo, pois logo a seguir estive a apoiar a população. Meses antes de ser nomeado Administrador estive lá com a população. Ajudei a população de Mocímboa da Praia, após ataque dos terroristas e noutros locais.
P – Como manifesta o amor que sente pela sua família?
SS – Eu te amo, eu te amo meu amor! Não sou muito bom na música, mas o que uma mulher gosta de ouvir? Essa é a palavra que ela gosta de ouvir, não é? Então, qualquer homem quando quer dizer algo para convencer a mulher, a palavra é essa: eu te amo. Eu tenho preferência de música. Sempre fui apreciador de Roberto Carlos desde os tempos. No meu tempo não havia esse tipo de festas que vocês têm hoje. Nós fazíamos farras nas casas das pessoas. Saímos ao fim de semana para Zambi, Sanzala, Mini-Golfe, onde as músicas eram mais mexidas. Quando estava em casa das pessoas eram músicas calmas. Então, era esse momento, pois eu gostava de menos barulho.
P – Como administrador de Marracuene, quais foram os grandes desafios que teve que enfrentar?
SS – Nós somos uma equipa unida e trabalhamos em conjunto. Os directores e outras partes, os líderes comunitários e a própria população, de quem tenho muito apreço, e que me ajudou a resolver um bocadinho os conflitos de terra. Mas é preciso reafirmar que a terra é sempre um conflito, é como dinheiro, e os problemas nunca acabam. Se acaba um começa outro mais grave, menos grave, mas penso que normalizamos este problema e conseguimos dar um melhor seguimento dos processos. Até porque conseguimos conceder terras à população e ter outro tipo de política na gestão do distrito. Conseguimos, em algum momento, estabilizar o distrito que estava esquecido e só se falava quando havia conflitos. Não vou dizer que não haverá conflitos no futuro, mas posso afirmar com muita propriedade que nós conseguimos, com o apoio do Governo provincial e próprio Governo Central, dirigido pelo presidente Nyusi, avançar com muitas coisas. Esses órgãos têm vindo a dar-nos algum alento e vontade de trabalhar e isso faz com que nós consigamos estabilizar o distrito de Marracuene. Eu vou ser sincero e honesto. As administrações são diferentes dos municípios. Os municípios têm alguma liberdade de gestão e as administrações não têm essa liberdade. São muito dependentes em termos orçamentais e outros aspectos, mas temos sonhos para fazer Marracuene desenvolver e transformar-se numa cidade jamais vista a nível do país, moderna, atractiva e acolhedora. Este é o meu sonho, em particular. Existem muitos desafios desde estradas, que estão péssimas, energia, que não existe em todo lugar, e se existe a qualidade não é boa. A água é também um desafio, à educação, que é uma prioridade para tirar os alunos de baixo das árvores, a saúde, que melhoramos muito, mas ainda constitui um desafio. Quando conseguirmos atacar essas áreas, particularmente o transporte público, seria o concretizar do sonho, nomeadamente de Marracuene ser o melhor. Por exemplo, a dessalinização das águas de Macaneta é um sonho nosso para fornecer água de qualidade para às cidades de Maputo, Matola, Marracuene e outros distritos. Já estamos a discutir com parceiros ao mais alto nível e isso se faz em muitas partes do mundo. Também posso dizer que o nosso solo aqui é um dos melhores que existem, por isso muitas indústrias vêm para Marracuene por causa da nossa água, mas é insalubre por isso é que falamos da dessalinização.