Economistas consideram exequíveis metas do OE para 2023
Economistas moçambicanos disseram recentemente aos órgãos de comunicação social, serem exequíveis as metas de crescimento económico de 5% e inflação a 11,5% que o Governo Moçambicano projecta para 2023, mas alertaram para o contexto de incertezas a nível mundial.
Os números fazem parte da proposta de Orçamento de Estado (OE) que o Governo aprovou na última semana para submeter em breve à Assembleia da República.
Estrela Charles, economista e investigadora da organização não-governamental (ONG) Centro de Integração Pública (CIP), destacou o facto de Moçambique começar a exportar gás natural da bacia do Rovuma nas próximas semanas.
“Prever 5% [de crescimento do PIB] é alcançável”, realçou Charles, assinalando que o executivo conta com uma forte expansão das exportações.
“Para 2023, o Governo tem uma expectativa de exportações de 8,8 mil milhões de dólares” face a uma previsão de cinco mil milhões de dólares para este ano – um salto “significativo”, enfatizou.
Estrela Charles defendeu maior clareza na indicação dos sectores que vão puxar pela economia, para que os números que o Governo aponta tenham maior credibilidade.
“É importante ver que sectores é que vão fazer com que a produção aumente, realmente, até 5%”, destacou, apesar de insistir que um eventual crescimento estará “concentrado no gás natural”.
Sobre a meta de 11,5% de inflação média anual, aquela economista também considerou aceitável a previsão, dado que não se vislumbra uma redução de preços dos produtos que conheceram um agravamento.
“O que o Governo está a querer dizer ou transmitir é que nós vamos continuar a ter uma inflação muito elevada, um nível muito elevado de preços, que tem a ver com uma inflação importada, devido à nossa vulnerabilidade na importação de bens de primeira necessidade”, disse à Lusa.
Para a economista, o Banco de Moçambique já sinalizou que o país enfrentará uma inflação superior a dois dígitos, ao prever uma redução das reservas internacionais líquidas para 2,9 mil milhões de dólares, para cobertura de dois meses de importações, face a 3,9 mil milhões de dólares este ano.
“O que o Banco de Moçambique está a dizer é: atenção, em 2023, nós não teremos reservas para usar e estabilizar a taxa de câmbio e muito provavelmente teremos um nível muito elevado de preços e uma taxa de câmbio elevada”, explicou.
Com uma menor injecção de moeda estrangeira no mercado, prosseguiu, o país terá maiores dificuldades para conter o custo das importações e deter a espiral inflacionária no mercado interno, prosseguiu.
Por seu turno, o economista Elcídio Bachita, também considerou idóneos os indicadores assumidos pelo Governo, apontando igualmente para o início das exportações de gás natural do Rovuma e vislumbrando um aumento da procura de carvão na Europa, devido à guerra na Ucrânia.
“Este processo de produção e exportação de gás natural do Rovuma, no próximo ano, poderá resultar em receitas fiscais para a tesouraria nacional e vai permitir que o Estado tenha recursos para financiar a economia”, enfatizou.
Considerou ainda que o reatamento da assistência financeira do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao país e a implementação de medidas de estímulo à economia poderão ter impacto visível.
Elcídio Bachita classificou como provável a retoma dos projectos de gás natural da TotalEnergies na província de Cabo Delgado, norte do país, suspensos em 2021 na sequência de ataques armados, o que teria também reflexos positivos.
Em relação à taxa de inflação média anual, Bachita sublinhou que Moçambique está exposto à volatilidade dos preços dos alimentos e combustíveis no mercado internacional: o país “depende fortemente de importações de combustíveis e também de produtos alimentares, como arroz, óleo e o trigo, e isso acaba influenciando também os preços a serem praticados internamente”, destacou.